Só escreve quem sente

(...) e então eu só queria um ponto final, mas antes disso eu precisava de uma boa história.

Eu não tinha juízo de como era, ninguém nunca havia me dito o quão abstruso seria passar por tempestades tão violentas. A cada caminhar que eu dava aquelas gotículas de morte me empuxavam com força para trás, me atalhavam de ter pensamentos bons, de pôr os joelhos para trabalhar. Estava chovendo, no deserto medial, e eu estava desamparada. Não molhava, a chuva. Mas chovia... Forte, como jamais chovera! Ele estava encolerizado, pranteando.

Toda noite eu apanhava a mesma folha, garatujada, suja com o sangue do dedo cortado, bem onde havia descrito a 2ª Guerra Mundial para apresentar no ginásio, acabei deslembrando. E olhava o canto onde havia escrito “Há não, onde deveria. Cadê a história?”. Por dentro a Terceira Grande Guerra estourou, eu era um breu. O sangue era azedo e eu sentia o formigar de meus órgãos resistindo ao que eu estava sentindo. O que eu estava experimentando? Era vazio... Atendo o nada como um sentimento. O pior de todos, mais aflitivo, agonizante e devastador. Quando você sente o nada, nada se pode fazer...

Os dias eram os mesmos. As pessoas eram as mesmas. A angústia era a mesma. Eu mudara.

Sobrevim à tudo recatada, sorrido. Mas por dentro eu estava sufocando com o meu próprio ar, matando minha própria vida, desejando outros desejos, desgostando de quem mais amei. Eu estava com medo, medo de não poder atender aos meus próprios anseios. Medo da voz que saia de dentro de mim. Medo de dormir e ficar nos pesadelos, para todo o sempre.

Era pra durar... Mas eu não fiz a minha parte. Eu joguei os tijolos fora. Eu amassei os papeis. Eu me arremessei da ponte. Procurei coisas que não queria achar. Me tomei de um vazio, enorme e vasto, grotesco e silencioso, vazio! E então quis escrever, mas só escreve quem sente...

Se acabou até Deus balanceia, olha para mim torcido, de vez enquanto avaliando minha concentração e arremessando um vento frio encima de mim para levar, o que for, embora...

Thainá Seabra

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