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Mostrando postagens de janeiro, 2012

Bilhete de Geladeira - 6

Há perdões e perdões, não sou pura o suficiente para perdoar, mas preciso que alguém me perdoe. Não quero ser vista nem por um raio de luz. Quero ser inalcançável como uma estrela, mas diferente dela sem o brilho. Uma estrela morta, me chame assim. - Camille Thainá Seabra

O que eu finjo que sinto

Bem alí na esquina, onde nunca fui, se dobra de dor um homem de meia idade. Não só ele, mais um outro, e uma velha, e uma moça, e um rapazinho, e um caboco, e uma assombração, e um bode, e o Seu Manuel, e mais todo mundo. No zigue e zag de uma ponta só, eu me excluo por não ter o que deveria: A dor que todos sentem. Não minto, já ouvi falar, demais. Sussurradas de uma forma não tão doce assim, vindas da boca de um demônio agourento, palavras que arranham a alma quando chegam ao pé do ouvido. Não as sinto, nem querendo. E me desespero inventando balanços malamados, filmes descoloridos, tecendo fios de cabelos em uma cabeça de jacaré. Quando fui gente, e soube que era, gritei para um canto da rua. Chorei por não ter para onde seguir, por ser só... Quando ninguém entendia o significado de um nada que o vento encheu, eu me abraçava para ver se sossegava meu desespero em meu próprio colo. Mas para minha não tão surpresa assim, achar a dor é mais difícil do que se imagina. Não precisa pi

As Cartas Que Nunca Entreguei

Ser tola transformou - se em pose. Quantas e quantas vezes me peguei escrevendo para o nada. Recitando poesias à uma gota d'água que insiste em inundar minha casa. Dizendo eu te amos ao vento para ver se ele me respondia. Para Miguel me gastei duas vezes, em resposta e a procura dele foram milhões. Mabel parei na metade e Caio nunca chegou a ser escrita. E quisera eu nem colocar uma chamada para no futuro poder entregar a qualquer um, tirar um sorriso... Fui estúpida de dar início e mais tola ainda de não ter parado. Cartas que guardo embaixo da cama para depois fazer um ninho de rato. Cartas nas quais me embolo para produzir uma história que nunca aconteceu. Cartas e mais cartas sem endereços, sem remetentes e sem pontos finais. Continuo dançando em meio de papeis floridos, papeis amarelados, papeis gastados de cafés, com cheiro de morango, com desenhos d’alma. Me prendi à pessoas que gostaria que existissem, que tivessem seu final feliz. Porque eu não tenho história e as

Bilhete de Geladeira - 5

Diz a mesmas palavras do papel em voz alta e percebe o quanto não ajuda em nada. Tentar ressuscitar uma borboleta que está morta a mais de um século é trabalho para Deus e no momento ele está ocupado cuidando de Miguel, é o que tenho pedido há algum tempo... - Camille Thainá Seabra

Bilhete de Geladeira - 4

Na ponta dos pés eu me abrigo até no abismo mais próximo. O medo do silêncio, não tenho mais. Mas algo me diz que se não ouvir a voz que preciso adentrarei um vale que me destruirá, e ainda assim me deixar com vida, apenas para sentir a dor de estar estilhaçada como um vidro que corta nuvens. - Camille Thainá Seabra

Bilhete de Geladeira - 3

Vou me encravar no solo mais intenso do oceano. O prazer de olhar para o nada se acabou, mas com ele a solidão não se foi... Um raio invisível me atingindo de minuto em minuto. Saiba que ainda respiro, mas já deixei de viver. - Camille Thainá Seabra

Bilhete de Geladeira - 2

A mente não pensa mais, a pele fala o que a boca não consegue. Os olhos choram para noite, trancados dentro de tanta dor que não se cabe no quarto e é preciso fugir pela janela. O mundo não costuma ser mais meu, agora ele é apenas um mundo qualquer me engolindo de todas as maneiras quando acordo sem um sol. - Camille Thainá Seabra

Bilhete de Geladeira - 1

Agora estou sendo apenas uma rosa morta que guarda no peito um baú de recordações. Uma música adormecida dentro das mentes de velhos amantes que se perderam no meio da estrada que leva ao lugar errado. Com Miguel a vida é uma interminável batalha, sem ele é uma ruína bucólica. Sentindo falta das cores e de belas piaras cantando em uma manhã aconchegosa, mas ela não existe mais... - Camille Thainá Seabra

Miguel

Um momento é difícil. Dois, nem se comenta... Olá Miguel. Não fiquei feliz em ficar feliz ao receber uma parte de você em minha caixa de correio. Não Miguel, não por que não queria receber notícias tuas. Porque eu queria. Não por que não te amo. Porque amo. Não também porque me arrependo de ter começado a te buscar. Pois não o faço. Apenas por que não queria ignorar o fato de que está afundado, eu e você já não permanece como eu desejava, e te ver falar sobre flores e uma desmedida solidão em seu acanhado coraçãzinho no qual vive um bom homem, me abala mais do que deveria... Não sei se fiz certo em te procurar. Como já disse, não me arrependo. Mas e se, Miguel? E se? Sei que você ainda é um garoto, um garoto que entra ao banho sem nem saber o que vestir quando sair. Um garoto que adora macarrão com queijo, jogar videogame 12 horas por dia e conversar sobre novelas. Um garoto com um sorriso maroto, que adora usar o cabelo desgrenhado e odeia usar camisa de botão. És um garoto

A Ponte de Carlos

Isso não merece ser lido por ninguém, nem por meus próprios olhos. Comecei sem rumo e acabei não conseguindo arranjar uma cabeça para cá... Porém: Ouvi dizer que o destino é uma ponte que une sua vida à outra pessoa. Mas e se a tal ponte possuir certo nome...? Praga me partiu, antes mesmo que eu pudesse parti-la em duas, em três, ou mais partes. É o que eu chamo de masoquismo, talvez. Ver seu nome em postes, em ônibus e ruas sem saídas. Imaginar seu sorriso falecendo na margem dos lábios de uma estátua de pedra que guarda a ponte que mais me faz lembrar você. Ou então, só por um momento olhar para o céu e em uma piscada ver seus olhos refletindo a negrura das nuvens no seu mais lindo dia nublado. Voltamos à estaca zero, onde pergunta-me se mudei. De lugar, ainda que não tenha respondido, sim. Não uso mais o chão, não vejo motivos absolutos. Mas meu eu, ora infernos, continua sendo o mesmo. Apesar de não ter entendido aonde queria alcançar, desejei ser a primeira. Pobre você, qu