Miguel

Um momento é difícil. Dois, nem se comenta...

Olá Miguel.

Não fiquei feliz em ficar feliz ao receber uma parte de você em minha caixa de correio.

Não Miguel, não por que não queria receber notícias tuas. Porque eu queria. Não por que não te amo. Porque amo. Não também porque me arrependo de ter começado a te buscar. Pois não o faço. Apenas por que não queria ignorar o fato de que está afundado, eu e você já não permanece como eu desejava, e te ver falar sobre flores e uma desmedida solidão em seu acanhado coraçãzinho no qual vive um bom homem, me abala mais do que deveria...

Não sei se fiz certo em te procurar. Como já disse, não me arrependo. Mas e se, Miguel? E se?

Sei que você ainda é um garoto, um garoto que entra ao banho sem nem saber o que vestir quando sair. Um garoto que adora macarrão com queijo, jogar videogame 12 horas por dia e conversar sobre novelas. Um garoto com um sorriso maroto, que adora usar o cabelo desgrenhado e odeia usar camisa de botão. És um garoto Miguel, e precisas crescer.

Eu te amo, hoje ainda mais do que ontem. Mas não passarei mais meio século cuidando de alguém que gostaria que cuidasse de mim. Porque juntos havia um abismo na divisa do sofá, da cama, em todo lugar. Mas separados, ah Miguel, separados é o fim. Ou melhor, é o começo de cada dorzinha que insistem falar mais alto que minha própria voz.

Às vezes me perco por entre os lençóis, tentando entender se meu ódio por ti é mesmo menor que meu amor.

Ninguém resolverá nossos problemas, senão nós mesmos. Mas e se, Miguel?

Lembrar de ti deveria trazer-me sorrisos, mas hoje a cada vez que meu pensamento toca teu rosto uma lágrima brota no canto de meus olhos. Como agora... Perdoa-me por ser tão fraca, tão ingênua. Eu digo que ainda és um garoto, mas eu não passo de uma pobre menina que precisa do teu abrigo todas as noites. Nós ainda somos dois adolescentes Miguel, brigando com a vida por ela ter nos dado tapas que não merecíamos... Ou merecíamos?

Você está sofrendo, não é, minha paixão? Até mais do que eu. É que nunca vir-te escrever tão belamente, me perdoa por sorrir disso...

Eu te prometo Miguel que me esqueci de tudo. Eu te perdôo, eu tiro essa culpa de ti e coloco em mim. Volta, sem pensar duas vezes. Eu te esperarei no amanhecer do dia, no calor da tarde, ao nascer da noite e na pior escuridão. Esperarei as 24 horas e mais algumas, uns trocentos dias e mais uns tantos. Porque eu me cansei de ser tola longe de ti. Prefiro que sejamos imperfeitos um para o outro, juntos.

Eu posso estar enlouquecendo, morrendo engasgada com minha própria insanidade, mas pra te ter de novo até os infernos duvidam do que sou capaz.

Comecei a escrever-te seriamente, com o objetivo de te abrir os olhos. Lá pelas tantas me irritei com o que eu mesma colocava no papel, e até deixei minhas lagrimas caírem. E agora Miguel... Agora termino sorrindo, desejando que aceite minhas palavras e esqueça tua tolice e venha para mim outra vez.

“Não deixe de ser meu lobo, jamais
Cante para mim nas mais esplêndidas luas cheias
E me entusiasma com essa selvageria infindável”

Aguardando ansiosamente você voltar,
Camille.


(Thainá Seabra)

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