O verdadeiro nome da Fera

Quem peregrina pelas nuvens, costumeiramente, possui asas. Eu não apresento - as, mas o céu é minha estrada de todo dia.

Eu peso o peso da vida de quinhentos homens armados. Meus olhos são da cardinalidade do planeta vezes sete. Minha voz ressoa nas esquinas da lua como um trovão seco. Eu nunca tive amor, e nunca terei...

Todas estas historietas hão de ter o jovem cavalheiro e a moça delicada. Aqui sou apenas eu e eu. Eu expondo que venero flores, ainda quando minhas mãos impulsivas saem triturando jardins. Eu suplicando que um fantasma frequente meus aposentos sem medo, simplesmente por encanto de me assombrar. Eu revelando que não conheço dores corporais, mas que minha mente fendeu-se há muito com minhas amarguras psicológicas.

Meu conto não há conversação alguma, pois a cuja com quem eu dialogo, do outro lado, se perdeu. Eu sou só, eu sou pó, eu sou nó.

Eu perdi vinte guerras, por ser fraco demais. Deus me criou, todavia sua fúria foi tão ampla, que em minh’alma de mostro Ele implantou a morte, a ira e a solidão. Eu não fui feito para amar...

Eu nunca contive um espelho, mas se eu tivesse, sei o que lá veria...: Uma anomalia de olhos murchos, que desistiu da humanidade antes mesmo de lutar. Uma pele grotesca, um sangue vil escorrendo da boca. Dentes amarelecidos que assassinaram a inocência.

Nas nuvens, é por lá que eu ando e ninguém me vê. Me ignoram, eu sou apenas uma sombra que não devia estar ali. Eu escureço o sol. Eu sou um demônio.

E o que ser algum percebe é que meus olhos também choram, meu corpo também se cansa, meu coração me pede alguém. E o que ninguém percebe é que eu sonho um sonho quando adormeço, ou quando simulo dormir. Que quem há de fazer meu ódio são os próprios fulanos e não eu.

Esse é meu nome, vida. Mas me chamam Fera por ser selvagem, por arrancar sem dó o coração de quem precisa ser jogado no lixo, por andar pelas ruas e destruir calçadas onde existe quem dorme, por começar pelo fim e terminar na melhor parte. Eu não sou mau e não sou bom, só sou uma fera comum.

Eu nunca amei, mas gostaria de amar... Minha Bela está perdida, me avise se a encontrar...



Thainá Seabra

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