1 de Maio de Um Ano Qualquer

Se as horas iguais fossem uma verdade... As estrelas cadentes, as três ondas da virada, cruzar os dedos. Nada nunca funcionou comigo e cá estou eu no fim do mundo ainda tentando ressuscitar minha competência.

Eu já nem quero ver tantos sorrisos, já não quero ver nada. Que me ceguem! Hoje é Maio, que não fosse, o tempo voou, correu, sumiu. Amanhã continuará sendo Maio, ai se não fosse, e ainda assim, de que adianta?

A gente pede pra ficar, a gente implora, a gente se agarra no último fio de cabelo. Chora, se mata de agonia, desgasta os dias, cria pesadelos, pede apenas um colo e de que adianta? A gente olha fotos, recorda momentos, se apega às lembranças, pede para voltar e de que adianta?

Nada mudou? E aquela grama que não é mais verde, o céu que já não é tão azul, a lua que já não brilha tanto assim? E aquelas palavras que já não conseguem acalmar, aquele olhar que agora é frio? E aquelas horas de conversas que se transformaram em séculos de silêncio? Nada mudou?

O mundo nunca foi meu... Porque as horas escorriam pelo ralo quando eu mais precisava parar o tempo. Porque as nuvens choravam quando eu mais precisava da luz do sol. Porque o sono me vinha quando eu mais precisava abrir os olhos e eu pedia demais aos céus. Mas de que adianta?

Prender-se demais ao passado é quase um pecado. Se isolar é pecado. E lá, bem longe, vem uma tsunami de sentimentos esfregar na cara que eu peco demais. Eu sofro demais. Aceito demais. Sinto demais. Para no fim passar uma noite a mais com a mente à mil, de que adianta?

De que adianta viver agora para morrer depois? De que adianta bater na porta se não tem ninguém em casa? Quantas e quantas vezes eu busquei forças onde não existiam para colocar um sorriso no rosto e dizer “Não é nada”? Para no fim prestar contas com minhas lágrimas enraivecidas. Para quê? Para não mostrar à alguém, à ninguém? Para levar levando, apenas para acabar alguma hora?

Está tudo tão invisível que eu ando tropeçando pela casa, pela sala. Nem os degraus suportam o peso que eu carrego. Mas eu vou, dia após dia. Com chuva ou sem chuva. Com choro ou sem choro. Sozinha. Na luta. Nada mais me resta se não aguentar tudo, empurrar garganta abaixo o que estiver entalado. Porque se ninguém quer ouvir de que adianta falar?

Thainá Seabra


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