A Parte Primeira

O tempo passou, Marina.

Não que eu ainda me lembre da última vez em que conversamos. Eu não perco meu tempo, eu não gosto de relembrar, eu apenas me escondo, fujo... Mas como se em uma última vez os florejos permanecessem mais bonitos, a lua mais acesa, o ar mais breve. Como se a melodia ecoasse mais admirável aos teus pés.

Marina menina, as palavras, que eu não careço pronunciar, se diluem no céu. E me faz compreender que eu jamais cantei, por que sei que os pássaros são melhores o realizando... Mas que gênio seu ao escavar as quatro rodas... Eu nem sinto a sua falta.

Não, Marina, eu nem me lembro de você... Mas se eu lembrasse eu sentiria falta do seu sorriso, dos seus fios que fluíam pelas suas costas desnudas. Lembrar-me-ia do prazer que eu experimentava ao ouvir sua risada invadir os cantos da casa, de como seus olhos traziam sua vida própria. Você vê como eu não necessito de você?

Você mentiu, disse que ia aguardar a neve cair. Mas ela não esperou você voltar para deitar-se em meu chão. Ela congelou-me a alma. E se eu morresse agora, você nem saberia... Quem iria te contar? Eu sou gelo por dentro e por fora. Maldita você que nem saudade deixou para trás.

E em algum lugar, cantigas de dormir são cantadas, então roubo um pouco para mim... Permitindo uma fresta na janela, adormecendo em abraço com a solidão. As cortinas esvoaçantes... O ar frio e pesado... Todas as noites sem estrelas... Consegue sentir?! A cantiga de ninar vindo de sei lá onde...

Durmo tão bem quanto Deus. E você nem ocupa meus pensamentos.

Será que você está chorando, Marina? Porque se eu morresse agora você nem saberia...

Quem é você, Marina? Eu já te desconheço que sei. Eu já não sei de que tom se faz teu céu, eu não lembro do teu cheiro, eu esqueci o teu gosto. Você é uma estranha que não faz falta, menina. E se eu chorar não será por ti, será um choro por mim... Por ter dó de mim que mente tanto. Um choro de descrença. Eu te amo?

Acreditar que meu nome será chamado, tentar te ver sentada em todos os bancos de todos os bosques, desejar que em um desses dias frios uma mão quente toque meus ombros, ouvir uma música triste e torcer para que você surja no meio dela. Isto é amor? Mas eu não sei mais quem é você...

Ah Marina, menina má. Mexeu meu eu e se foi...

Faz tanto tempo e vejam só, eu ainda lembro...

Thainá Seabra

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