Lugar nenhum, 11 de abril de 2013, 18:08 PM

Ser remido uma vez é bom. Duas, é alucinação...

Amor meu,

Que de ontem eu pudesse fazer meu sempre. Eu que já não ouço teus pensamentos, Camille, só peço para Deus que te guarde.

Eu evadi-me uma vez e diversas mil. Não, Camille, não porque não te amo. Porque amo. Não porque não anseio estar cada segundos dos meus dias diante a ti. Porque eis o meu desejo. Não porque esqueci os sonhos que nós erguemos. Porque ainda lembro. Apenas porque tenho temor de quem consisto ser.

Eu invado-me dentre papéis que eu jamais te confiarei, eu desponto-me para fronteiras que não me escutam. Eu simulo não saber do que sei, para vê se fazes o mesmo e cega-se com meu verdadeiro corte. Camille, eu não sou um lobo bom... Eu pranteio em meio a um acaso que te ama o tanto que me detestas. Ele expõe teu nome borrado nos fins de imundos blocos, faz abarcar aos olhos os versos das cartas que nunca me oferecestes, faz bulir do além nossa canção em um piano que faz bailar os fantasmas que me assombram. Camille, protege-me de mim mesmo. Eu sou o meu lhufas, eu sou teu desacerto, tu és meu tudo.

Eu me perdi dos teus caminhos, eu corri sem nem saber andar. Para que eu te evitei uma vez outra se eu já degustei a queda das trevas, pequena? Diz-me o que há de tortuoso com esta criatura, me auxilia a descobrir a alma que eu não tenho. Cessa este alarme dos céus, este medo da solidão, o receio da descoberta. Camille, e se eu não for o teu Miguel?! Eu sei da minha verdade, daquela que eu encubro-te...

Nesta era, neste espaço que eu não sei aonde é... Eu dei-me conta de que os berreiros que se abocam em minha garganta jamais acariciarão o ar, os meus soluços acomodados e que incineram-me continuarão avisando-me de que ainda permaneço vivo, ao menos hoje. Quiçá amanhã eu jaza mais longe daqui. Camille, ajude-me a te fazer escutar os meus pedidos mudos de dispensa. Onde quer que encontre-se neste anoitecer, respira discorrendo sobre mim e eu uivarei teu nome. Não me deixa partir do teu coração...

Eu entrego-me ao nada, eu imploro por um perdão que não será ouvido, tampouco acolhido. Deus odeia-me de tal maneira que tu fazes, amor. Se eu me escondi, apenas foi meu entretom, tu sempre compreendeste que eu não era um lobo bom... Menina, ainda que me atire os termos da mensagem que nunca expuseste à mim, eu não deixarei de ser o embuste que tu amaste. Ainda me amas, Camille? Diz que eu ainda sou teu devaneio, diz que são meus lábios que tu queres provar pela última primeira vez, mente para mim e diz que eu sou o amor da tua vida, diz que eu sou a calma das tuas ondas, eu sou a voz que te enlouquece...

Meu pequeno trovão, o adeus por ora transformou-se se em uma longa despedida que não teve chance de ser pronunciada. Se hoje teu coração pulsa um pouco negro, eu peço perdão. Se hoje a tua garoa não é tão deleitosa, eu peço perdão. Se hoje tuas lembranças te pungem tanto quanto as minhas, eu peço perdão. Se hoje sorri, mas não de teu desejo, eu peço perdão. Se hoje ainda impregnas um amor por uma fera que habita matas desconhecidas, eu peço perdão.


“Olhos que dominam a besta e ferem um coração maligno.
Anjo de asas vermelha. 
Pequenas mãos que namoram um criminoso.
O nome santo gritado aos quatro ventos como jura de amor ainda não é ouvido.”


Tu sempre serás a minha Camille, a dona da alma que este lobo não possui.

Miguel, teu falso lobo.

Thainá Seabra

Postagens mais visitadas deste blog

Ontem de noite, na Terra

Só escreve quem sente

De Julieta sem Romeu à janela do meu quarto